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Dia dos Pais

Repensando as masculinidades: além do Dia dos Pais

Alessandro Prates | Mestrando do PPGCOM - UFRB

 

Todo ano, o Dia dos Pais nos oferece a oportunidade de homenagear os homens que desempenham um papel importante em nossas vidas, seja como pais, mentores ou figuras paternas. No entanto, essas datas também podem ser um gancho para aprofundarmos nossa compreensão sobre as masculinidades e a necessidade de discutirmos questões cruciais relacionadas à identidade masculina.

Por gerações, a sociedade cria expectativas/papéis pré definidos  sobre o que significa ser UM homem "verdadeiro". Essas expectativas frequentemente estão associadas a traços como força física, agressividade, controle emocional, e até mesmo repressão de sentimentos considerados "fracos" ou "femininos", contrários a noção de virilidade, para categorizar o ser homem social. No entanto, essas noções rígidas e limitadoras de masculinidade podem ser prejudiciais tanto para os homens quanto para aqueles que os cercam.

No livro "Seja Homem: A Masculinidade Desmascarada", 2020, JJ Bola destaca como essas expectativas tóxicas podem levar a diversos problemas, como a perpetuação da violência e da opressão, dificuldades na comunicação emocional, e a repressão de aspectos importantes da personalidade de cada indivíduo.

Existem múltiplas formas de ser homem e a masculinidade não é um padrão imutável e universal. Cada ser humano carrega consigo uma diversidade de características, emoções e experiências que moldam sua identidade, independentemente do gênero. A desconstrução das normas rígidas de masculinidade é um caminho necessário para que todos os homens possam se sentir livres para se expressarem plenamente, sem a pressão de corresponder a um ideal inatingível.

Outro ponto crucial nessa reflexão é a necessidade de revermos a forma como educamos nossas crianças em relação às masculinidades. É fundamental criarmos ambientes em que os meninos se sintam confortáveis ​​para demonstrarem seus sentimentos e vulnerabilidades, sem medo de serem julgados ou rejeitados. Ao fazê-lo, estamos elaborando novas possibilidades de construirmos uma sociedade mais empática e inclusiva, onde todos possam se expressar de maneira autônoma.

Fagner Fernandes, pai do Heitor de 2 anos e 9 meses, mestrando do PPGCOM, tornou-se pai em meio a um contexto de atravessamentos complexos, a pandemia de 2020. “Heitor foi gerado e nasceu em 2020, no auge da pandemia e era muito complicado lidar com tantos sentimentos e preocupações. Além disso, a coisa que eu mais pensava era como criar um ser humano em um mundo cheio de ódio, violências e preconceitos. Eu encarava isso como uma grande responsabilidade. Nós temos nas mãos alguém que está aprendendo e nosso desafio é permitir que ele construa sua identidade de maneira livre, mesmo que a sociedade imponha alguns comportamentos e papéis”, pontua o pesquisador. 

Essa jornada de desconstrução também pode ser aplicada em outras esferas, como no ambiente de trabalho, nas relações afetivas e na interação social. Ao permitirmos que a masculinidade seja algo diverso e flexível, estamos abrindo espaço para que outros indivíduos, independentemente de seu gênero, possam viver suas vidas de maneira autônoma e plena. Sobre sua trajetória de ser pai, Fagner ainda afirma necessidade de desenvolver um olhar cuidadoso e respeito, “estou observando quem ele está se tornando e sempre vou respeitar sua subjetividade. O meu papel mesmo é dar os caminhos para que ele desenvolva suas inteligências, tenha empatia pelos seres vivos e viva em harmonia com a natureza.” 

Enfrentar e questionar a masculinidade hegemônica é um desafio, mas é um passo fundamental para a evolução de uma sociedade mais saudável e equitativa. Ao permitir que os homens expressem seus afetos de maneira autônoma, podemos construir relacionamentos mais profundos e enriquecedores e quebrar o ciclo de comportamentos tóxicos associados à masculinidade tradicional. Nesse âmbito, Fagner salienta a necessidade de se abrir para abrir com a própria criança, “ na verdade, eu aprendo muito mais com ele do que o contrário. Por exemplo, ele me ensinou a demonstrar mais afeto, em todos os momentos e isso não desfaz quem nós somos, pelo contrário, eu me sinto vivo em poder deixar de lado tantas coisas que me impediam de ser quem eu sou hoje”.

Neste Dia dos Pais, além das homenagens e presentes tradicionais, o PPGCOM-UFRB propõe reflexões mais profundas. A discussão sobre as masculinidades é uma oportunidade para construir uma sociedade mais inclusiva. “Vejo a paternidade de um ângulo diferente. Acredito que meu papel de “pai” não é fazer com que ele seja igual a mim. É um aprendizado. É preciso se desconstruir primeiro, pois quero que ele ache o caminho dele e não replique coisas que estou desfazendo. Por isso, tento entender quem eu sou e se o que eu performo está tendo impacto negativo para ele, no sentido dele reproduzir nossos preconceitos”, conclui Fagner.

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Fagner Fernandes é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRB (PPGCOM)  e atua como Técnico de Tecnologia da Informação na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

 

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Referência Bibliográfica

BOLA, JJ. Seja homem: a masculinidade desmascarada.  trad. Rafael Spuldar. — Porto Alegre: Dublinense, 2020

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