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Novembro: mês da consciência negra.

É tempo de reafirmar a resistência do povo brasileiro
“Precisamos colocar a história no seu devido lugar”, afirma Regina Lúcia, do Movimento Negro Unificado (MNU)

Por Wesley Lima
Da Página do MST

NOVEMBRONEGRO

O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, relembra a morte de Zumbi dos Palmares, último líder do quilombo dos Palmares, assassinado em 1695. Há décadas o mês de novembro tem se tornado referência para atividades que inspiram a luta, resistência e, principalmente, a rebeldia do povo negro, que historicamente tem sido os sujeitos do enfrentamento ao racismo articulado nas diversas esferas da sociedade.


Neste mês, as atividades de luta do Movimento Negro e de diversos setores organizados, reafirmam o black power, que quer dizer “poder negro”, o orgulho da identidade negra, que é uma das dimensões da consciência negra. Essas ações reconhecem o legado de Zumbi, Dandara, Maria Quitéria, Carlos Marighella, Luiz Gama e entre outros lutadores e lutadoras que doaram suas vidas ao povo.


Primeiro grito de liberdade

Esse processo teve início no Quilombo dos Palmares, que foi um dos muitos quilombos da era colonial brasileira e sua origem remonta os anos de 1580. Palmares foi o refúgio dos negros e das negras escravizados que estavam em fuga de engenhos das Capitanias de Pernambuco e da Bahia. Rafael Pinto, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), ao falar sore o Novembro Negro e apontar Palmares como uma referência na atualidade, destaca que o quilombo representa o primeiro grito de liberdade.

“A luta por liberdade inicia-se com Palmares. A luta pela terra, utilizando aqui como marco da luta camponesa, começa por Palmares. A luta pela ampliação de direitos começa em Palmares”, explica e continua: “Nós conseguimos tirar do rodapé da história Palmares, que permaneceu nessa condição até o final dos anos 70, a partir daí com o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU) nós viramos uma página que diz respeito a combinar a luta contra o racismo, por liberdade democrática, no sentido de expressão e organização, e avançarmos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.


Desigualdade racial

As desigualdades raciais no Brasil são atuais. Apesar de mais da metade dos habitantes do país ser negra – 54% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) – são os brancos que ocupam as maiores parcelas nos índices econômicos e sociais. Nos últimos anos, houve importantes avanços que diminuíram as diferenças em diferentes áreas. O percentual de negros no nível superior mais que dobrou entre 2005 e 2015, de acordo com o IBGE.


Outro fator alarmante é a renda familiar composta por pessoas negras. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com a Fundação João Pinheiro (FJP) o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado em maio de 2017, aponta que a renda familiar média das pessoas negras é menos do que a metade da renda de pessoas brancas. Enquanto os brancos têm um índice de R$ 1.097,00 por pessoa, a renda de negros é estimada em R$ 508,90.


Ao olhar para o processo de construção social do país e as marcantes desigualdades provocadas por um histórico de desumanização da população negra que durou cerca de 358 anos, com o processo escravocrata, Rafael aponta como um dos principais desafios na atual conjuntura é a combinação da contra a exploração racial com a classe.

E comenta: “Ao tratar dessa questão no Brasil, nós estamos contribuindo para uma reflexão mais profunda de como nós podemos construir uma sociedade mais justa num país com a formação que nós temos, que é um país multiétnico e racial. Como tratar desse assunto, num país que ocupa o segundo lugar com a maior população negra no mundo? Como tratar esse assunto falando da diáspora? Enquanto esquerda não demos conta de apontar esses elementos para construção de uma sociedade mais ampla, levando em conta essas demandas. Como construir a igualdade tendo respeito as diferenças, as diversidades que nelas existem?”, questiona.


Novembro Negro


Sobre a importância desse mês na luta contra o racismo, Regina Lúcia, do Movimento Negro Unificado (MNU), afirma que as atividades realizadas neste mês estão ligadas a representatividade e a necessidade política que a história do Brasil seja contada, a partir da participação de toda população brasileira, em especial dos negros que é a maior parte social.


Ela comenta ainda que “é necessário que a população brasileira se aposse de sua negritude [...]. Precisamos colocar a história no seu devido lugar”, enfatiza Lúcia.


Nesse sentido, Rafael acredita que o Novembro Negro é um momento de amplo debate e de discussão em torno da sociedade igualitária que queremos e apontar os caminhos de como devemos construí-la. “A consciência negra é uma consciência importante para todos os oprimidos, para todos os brasileiros. Na medida que tentam mascarar e invisibilizar todo processo de construção que os negros fizeram nesse país, nós dizemos que é necessário avançar na construção da afirmação e da construção da cidadania”, conclui.


*Editado por Maura Silva

 

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