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JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: Conheça a história da primeira mulher da ABL

Inicialmente, a ABL não aceitava mulheres e a escritora não pôde ficar entre os imortais, mesmo tendo frequentado as reuniões de fundação

Patriciajulia lopes de almeida darkside medo imortal

Fundada em 1897, sob os moldes franceses, a Academia Brasileira de Letras (ABL) contou com a ilustre colaboração da escritora e abolicionista Júlia Lopes de Almeida. Contudo, embora a memorável autora tenha participado de reuniões e contribuído ativamente para a criação da instituição, ela foi esquecida.

A cadeira de número 3 da Academia Brasileira de Letras (ABL) guarda uma história de injustiça no meio literário que nos ensina sobre a importância do protagonismo feminino em nossa atual sociedade. A escritora Júlia Lopes de Almeida mostrou a importância de sua obra em meio a uma época da história do Brasil extremamente sexista e conservadora. Mesmo participando de reuniões e contribuindo para a fundação da ABL, ela não foi escolhida para figurar entre os imortais da Academia. O motivo? Ser mulher. Seguindo o padrão francês das academias literárias época, a ABL, fundada em 1897, não aceitava mulheres. A cadeira que deveria ser da autora foi, então, concedida ao seu marido. Apenas em agosto de 1977 a Academia Brasileira de Letras passou a aceitar mulheres, com a entrada da escritora Rachel de Queiroz no seleto hall de autores.

Segundo o site da Editora Darkside, a abolicionista realizou inúmeras palestras ao longo de sua vida, a fim de conscientizar as mulheres sobre seus papéis de emancipação perante a sociedade misógina da época. 

Crítica da situação social do Brasil, através de seus romances a autora costumava representar a sociedade sob várias perspectivas por meio de enredos, tramas e intrigas nos quais imprime posicionamentos políticos, ideológicos e religiosos próprios do momento retratado. Diferindo-se dos escritores homens desse período em relação aos assuntos de destaque em sua obra e sobre a visão que aplica a eles, Júlia Lopes deixou um legado rico no sentido de retratação da sociedade desde a abolição da escravatura até a década de 1930. 

Júlia escreveu romances, contos, crônicas, ensaios e peças de teatro durante uma época em que mulheres que aspiravam qualquer profissão, além de cuidar do lar, eram explicitamente ignoradas — ou então, simplesmente substituídas por homens. Ao longo da História, muitas mulheres criaram, atuaram, escreveram e produziram belíssimos trabalhos nas mais diversas áreas do conhecimento. Mas os tempos eram ainda mais difíceis e conservadores, e o protagonismo sempre acabava indo parar nas mãos de seus maridos ou professores.

Com o texto clássico de sua época e à frente de seu tempo, Júlia insere em suas obras diferentes pontos de vista e representa a mulher, colocando reflexões e mostrando, inclusive, a diferença de tratamento da sociedade. Nascida no Rio de Janeiro, em 1862, a autora se mudou para Portugal, onde conheceu seu marido, o poeta Filinto de Almeida, e lançou o livro Contos Infantis, em 1887, ao lado de sua irmã Adelina Lopes Vieira. Júlia se tornou uma das escritoras mais publicadas da Primeira República (1889-1930), chegando até a contribuir com artigos e matérias que abordam os direitos sociais e a vulnerabilidade da mulher de sua época nas principais revistas do meio.

Conhecer a história da grande escritora Júlia Lopes de Almeida é entender como as mulheres que se aventuravam na produção literária  eram vistas — e, sobretudo, se dar conta de que vestígios de um sexismo enraizado em nossa sociedade ainda se fazem presente na jornada de inúmeras mulheres que lutam para conquistar seus espaços. A redescoberta de Júlia Lopes e de seu trabalho, junto de outras autoras esquecidas no passado, aconteceu a partir dos anos de 1970, principalmente no meio acadêmico, nos estudos e pesquisas das áreas de Letras e Ciências Sociais. Em 2017, a Academia Brasileira de Letras, no ciclo de conferências Cadeira 21, homenageou a autora e reconheceu a injustiça por ela sofrida. 

Vítimas do machismo e patriarcado, muitas tiveram que lutar e dar suas vidas em prol de uma causa. Contudo, cada vez mais, a luta das mulheres tem ganhado força e histórias como a de Júlia são resgatadas e contempladas pelas gerações futuras.

 

Fonte:

- Patricia Freire do Nascimento - USP
- Darkside.blog.br
- Aventuras na História 

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