Após o anúncio do retorno de Robinho ao futebol brasileiro, a grande mídia nacional mostrou a sua faceta: a propensão de transformar reportagens como essa em verdadeiros projetos de marketing e jornalismo de quinta categoria. Não há uma linha sequer na cobertura sobre o retorno do atacante da seleção ao Santos, gerada por uma nova quebra de contrato do ídolo da equipe que foi campeã brasileira de 2002.
Ainda em 2005, vestindo a camisa do Santos e com contrato em vigor (recebia um salário mensal de R$ 500.000,00), orientado por seu empresário, Robinho parou de treinar e jogar para forçar a sua venda para o Real Madrid. A transação chegou a R$ 32 milhões.
Depois de três temporadas no clube merengue, Robinho, orientado novamente pelo seu empresário, brigou com tudo e com todos para jogar na Inglaterra. O destino foi o Manchester City, que pagou aproximadamente R$ 70 milhões para ter o habilidoso atacante.
Mas 18 meses depois de assinar com o City, Robinho repete seu comportamento anti-profissional. O atacante fez “beicinho” para os ingleses e mesmo com um salário de R$ 1.800.000,00 por mês deixou claro que queria voltar para o Santos. O negócio foi fechado nesta quinta-feira.
Porém, mesmo com esse histórico, a imprensa nativa prefere o lugar comum e diz que agora o torcedor brasileiro voltará a assistir as pedaladas do atacante. Exceto a ESPN Brasil (sim, ainda existe esperança para o jornalismo esportivo), o tom das reportagens é o mesmo em qualquer veículo.
O jornalismo esportivo brasileiro nutre uma relação promíscua entre profissionais da imprensa e atletas. As reportagens, na maioria das vezes, parecem que foram feitas pelas assessorias de imprensa dos atletas. No caso de Robinho, percebemos claramente a ligação entre o departamento comercial e a redação. Com a chegada de Robinho, que assinou com o Santos até dia 04 de agosto, fica claro o interesse dos propagandistas da transação na venda dos pacotes de pay per view.
Recentemente, Roberto Carlos, ex-lateral da seleção e atualmente no Corinthians, revelou uma mágoa com o locutor Galvão Bueno. O jogador não engole a crítica feita pelo global no episódio do gol de Henry nas quartas-de-final da Alemanha, em 2006. O narrador da Vênus Platinada credita a derrota do Brasil a Roberto Carlos por ele ter ficado arrumando a meia enquanto a atacante francês entrava na área para marcar o gol que eliminou a seleção brasileira da Copa.
Em suas declarações, Roberto Carlos mostrou claramente que os atletas brasileiros não estão acostumados às críticas, pois o jornalismo esportivo brasileiro acostumou-se apenas ao afago.
Um ano após a Copa de 2006, em entrevista ao portal globo.com, Galvão afirmou saber que “aquela brincadeira na Suíça não ajudaria o Brasil na Alemanha”. Já que o profissional sabia, por que não falou antes? Por que não fez jornalismo e levantou a questão à época? Preferiu vender a idéia do hexa, lucrar com as cotas publicitárias e acreditar no “quarteto mágico”.
O esporte, principalmente o futebol, faz parte da cultura brasileira e a imprensa nativa precisa entender que não pode deixar de fazer uma cobertura crítica e atenta à verdade factual. O resto pode ser tudo, menos jornalismo.
Maurício Medeiros